No conceito
popular, a bruxa é uma mulher que tem pacto com o demónio e as circunstâncias
que lhe conferem o estatuto podem ser de três naturezas: 1 – o fruto de um
coito de uma mulher com o demo; 2 – a última de sete filhas seguidas da mesma
mãe e que não haja tido por madrinha a irmã mais velha; 3 – o dom obtido por
herança de outra bruxa após um convívio, assumido ou desacautelado, com ela. As
duas primeiras são as que apresentam maior consistência na memória oral,
ajudando, inclusive, a estabelecer uma dualidade entre a bruxa e a feiticeira,
no conceito popular. “A bruxa nasce, a feiticeira faz-se”, diz um velho
provérbio. Por sua vez, a terceira natureza resulta da falta de “zelo” durante
o convívio estabelecido em vida com uma bruxa. Em algumas aldeias de
Trás-os-Montes diz-se que a mulher que herdar a peneira de uma bruxa, ainda que
o faça inconscientemente, virá a tornar-se bruxa também. Existiam também alguns
cuidados, tidos antes ou depois do parto, não só para evitar esta sina, mas
também para impedir que a criança fosse sujeita a quaisquer atos de bruxaria.
Assim, havia quem atasse uma tesoura com uma fita no leito da mulher em vias de
dar à luz, e, depois do parto, colocasse à cabeceira da cama uma vela acesa (que
seria aí mantida até ao batizado), mas igualmente uma tesoura em forma de cruz,
uma faca, uma figa (também posta ao pescoço da criança), uma meada, um rosário
de cabeças de alho. Há também testemunhos sobre o uso de drupas de trovisco
(apertadas dentro de uma meia) colocadas ao pescoço da criança, assim como
dentes de porco-bravo, cabeças de víbora, pedras de raio, ferraduras e chifres
de boi pendurados atrás da porta, entre outros talismãs. Enquanto isto, a
primeira camisa do recém-nascido era-lhe vestida às avessas, e havia sempre o
cuidado de não o trazer para a rua enquanto não fosse batizado. Mesmo dentro de
casa, eram muitos os cuidados a ter com certas visitas. A vela acesa
permanentemente após o nascimento era para impedir que, a coberto do escuro ou
durante o sono da criança, esta recebesse a visita de alguma bruxa, um risco
que irá diminuir (ou acabar) com o batizado. Quando uma criança, naquela fase,
se encontra muito magra diz-se que está “chupada
das bruxas”. Existe também a expressão “andar o menino na mão das bruxas”
como sinónimo de andar de mão em mão numa casa onde se encontram muitas pessoas.
Em algumas aldeias transmontanas, quando há suspeita de presença de bruxas,
costuma varrer-se as ruas e as casas com vassouras feitas de arbustos de
trovisco.
Alexandre Parafita
(Bibliografia: PARAFITA, A. – O Maravilhoso Popular, Lisboa, Plátano Editora, 2000)